Bolsonaro mostra o medicamento Reuquinol (hidroxicloroquina) em cerimônia de posse do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Bolsonaro mostra o medicamento Reuquinol (hidroxicloroquina) em cerimônia de posse do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)


Por Marco Henrique

O bolsonarismo no último mês levou um 7 a 1 histórico em termos geopolíticos, ideológicos e também eleitorais, acendendo de vez o sinal vermelho em Brasília do que pode vir por aí nas eleições presidenciais daqui dois anos.

As coisas não vão bem em termos geopolíticos faz tempo. Desde que chegou ao poder, Bolsonaro vem assistindo a líderes da extrema-direita que ele admirava publicamente simplesmente o ignorando. E, como se não bastasse, eles também estão caindo um a um em seus países.

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Novembro foi um choque de realidade para o presidente, que viu o seu ídolo perder as eleições nos Estados Unidos devido às suas atitudes negacionistas, desrespeitosas e mentirosas, como as que Bolsonaro reproduz aqui.

Se o presidente ainda é capaz de raciocinar com clareza, é possível que tenha pensado: “por que o meu fim será diferente?”

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Ao ser questionado sobre Trump, Bolsonaro tentou não passar à imprensa a sensação de que “sentiu o golpe”, e sim mostrar indiferença, como vem fazendo desde que seus companheiros ideológicos vêm caindo.

Mauricio Macri (Argentina) foi o primeiro, seguido de Benjamin Netanyahu (Israel) e agora Donald Trump (EUA). Essas três figuras eram as mais próximas a Bolsonaro, mas outros nomes em outros países à direita também estão desmoronando.

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Ainda em 2019, direitistas perderam as eleições em Portugal, Espanha e Bolívia (onde ocorreu um golpe de estado aplicado pela direita radical, que fez eu Evo Morales fugir do país. Após o governo de transição, houve eleições e a esquerda venceu nas urnas novamente, e o partido de Evo Morales voltou ao poder).

No México, a esquerda está no poder desde 2018 com Andrés Manuel López, e no Chile as coisas não parecem estar bem para Sebastián Piñera: as pesquisas apontam que a direita não vai bem por lá também.

Mas nenhuma dessas quedas foi tão impactante quanto a deste mês de novembro, pois o fim do mandato de Donald Trump foi um sinal de alerta para o presidente.

Não apenas pelo poderio econômico e bélico dos Estados Unidos, ou sua influência no campo geopolítico. Bolsonaro, assim como uma adolescente que venera um personagem, sempre se inspirou em Donald Trump tentando imitá-lo na forma de falar, agir e fazer política, e dizem que até declarou seu amor profundo com um sonoro “I love you”.

Ainda é cedo para afirmar se esses sinais são de que essa onda de extrema-direita vai passar mais rápido do que todos calculamos de início, talvez isso aconteça no restante do mundo onde o nível educacional é mais alto que no Brasil e as pessoas não foram inseridas num universo paralelo de fake news e teorias da conspiração.

Mas, no Brasil, ainda é uma incógnita, apesar de os sinais negativos para a direita radical.

Bolsonaro, que vem se isolando e isolando Brasil cada vez mais desde que assumiu o poder, essa semana teve de lidar com uma saia justa vinda do governo chinês, que perdeu a paciência com seu filho deputado e twitteiro Eduardo Bolsonaro, e ameaçou cortar relações comerciais com o Brasil formalmente, após o Eduardo alegar em uma postagem no Twitter que as negociações acerca do milionário mercado da nova tecnologia 5G estão se desenrolando com os Estados Unidos, o que é mentira – americanos e chineses travam um duelo global pelo mercado da nova tecnologia. Após a manifestação da China, o filho do presidente simplesmente apagou a postagem e se calou.

No âmbito das eleições municipais, o saldo também foi péssimo para o bolsonarismo, já que os candidatos apoiados pelo presidente sofreram derrotas esmagadoras.

Candidato apoiado por Bolsonaro, Russomanno foi caindo no decorrer da corrida eleitoral e terminou com 10% dos votos na capital paulista. (Foto: Reprodução)

Celso Russomano, candidato a prefeito de São Paulo que iniciou a corrida eleitoral com 29% das intenções de votos ao colar sua imagem na do presidente, assistiu o seu nome despencar a cada dia nas pesquisas, terminando o pleito com apenas 10% dos votos válidos.

No Rio de Janeiro, o apoiado por Bolsonaro Marcelo Crivella não conseguiu decolar e foi ao segundo turno com apenas 20% dos votos válidos no primeiro turno e não conseguiu atingir mais de 34% no segundo, sendo atropelado por Eduardo Paes.

Joice Hasselmann, que foi líder do governo Jair Bolsonaro na Câmara Federal até romperem politicamente e é um dos frutos do bolsonarismo que ainda leva muita simpatia de parte da militância bolsonarista em São Paulo, não atingiu 2% dos votos.

Na capital, somando as três figuras frutos do bolsonarismo, elas atingiram apenas 21% dos votos: Celso Russomanno 10%, Arthur do Val 8% e Joice Hasselmann 2%.

Dos 13 candidatos a prefeitos pelo país apoiados por Bolsonaro, só dois se elegeram e quatro chegaram ao segundo turno. No Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, com 70.995 votos, foi reeleito vereador da capital do Rio de Janeiro. Aos 37 anos Carlos nunca trabalhou na iniciativa privada e vai para o seu sexto mandato consecutivo.

Mesmo com a dedicação do pai, que pediu votos para o filho em várias lives, Carlos perdeu mais de 35 mil votos em relação a 2016.

E, como se não bastasse tudo isso, para tristeza de Bolsonaro e felicidade da população, nós o assistimos perder a queda de braço com o governador João Dória e os insumos para produção da Coronavac já estão no Brasil. Estamos na iminência de receber a vacina até março.

Realmente esse mês de novembro não foi fácil para presidente da República, espero que ele tenha cumprido a agenda médica da campanha Novembro Azul, porque não existe nada que esteja ruim que não possa piorar…


Marco Henrique tem 36 anos, é jornalista, escritor e estrategista político. Há dez anos atua profissionalmente nos bastidores do cenário político realizando gerenciamento de campanhas e estratégias eleitorais para diversos atores políticos e partidos. É constante estudante da história política nacional e seus desdobramentos.


Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site.