Mais de 100 sindicatos rurais e cooperativas de diversos municípios do estado de São Paulo marcaram para esta quinta-feira (7) um “tratoraço” em forma de protesto contra o PL 529, que culmina em um ajuste fiscal e, entre outras medidas, no aumento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) no estado. A programação foi mantida, apesar do recuo do governador João Doria (PSDB), que anunciou a suspensão do aumento do imposto sobre alimentos e medicamentos genéricos ainda na noite desta quarta (6).
Os produtores rurais mantiveram o ato com a justificativa de que nem todas as demandas foram atendidas pelo governo estadual. Segundo a Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo), a mudança anunciada ontem por Doria “atendeu parte das propostas do agronegócio, mas outros pleitos importantes ficaram de fora: energia elétrica, leite pasteurizado e hortifrutigranjeiros, esses dois últimos fundamentais nas cestas básicas.”
Tanto pequenos municípios quanto cidades maiores participaram das manifestações. Algumas registraram cenas pitorescas, como um boneco gigante de João Doria com a bandeira da China, a foice e o martelo símbolos do comunismo e o rosto do presidente chinês, Xi Jinping, vistos em Ribeirão Preto. Em Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, havia entre os participantes até defensores do retorno da monarquia no país.
Em Fartura, porém, as críticas foram mais direcionadas; não somente ao governador, mas também aos deputados estaduais que apoiaram o aumento do ICMS e possuem eleitores na região. Os nomes escolhidos foram Ricardo Madalena (PL), Fernando Cury (Cidadania), Janaína Paschoal (PSL), Wellington Moura (Republicanos), Sebastião Santos (Republicanos) e Tenente Carmelidia (PSL) – é importante ressaltar, porém, que legendas como DEM, MDB, PL, PSDB, Republicanos, Solidariedade e Cidadania votaram em peso a favor do aumento, em outubro do ano passado. Outra característica marcante da movimentação entre os farturenses foi a presença de muitas bandeiras do Brasil nos tratores.
Produtores, comerciantes, aposentados e também vereadores e lideranças políticas estiveram presentes no “tratoraço” em Fartura. O presidente do Sindicato Rural farturense e ex-prefeito da cidade, Zé da Costa (DEM), discursou aos participantes, agradeceu a todos e não poupou críticas aos deputados que apoiaram o aumento do imposto – como Ricardo Madalena, que teve muitos votos no município – e ao atual governador, que “foi eleito para acabar com a velha política”. Sobre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Zé foi bastante elogioso e questionou quem ali no recinto tinha ouvido falar de algum grande escândalo em seu governo.
A mudança de postura do ex-prefeito, integrante da mesma legenda do vice-governador Rodrigo Garcia (DEM), foi até verbalizada. “O partido a que eu pertenço está junto com o Doria. Não falei com eles depois da eleição. E não vou falar mais com o Rodrigo”, revelou o Zé da Costa ao encerrar a sua participação.
Em entrevista ao UOL, Tirso de Salles Meirelles, vice-presidente da Faesp, afirmou que o aumento do ICMS impactaria negativamente principalmente os pequenos agricultores do estado, e comemorou o recuo do governador. Sobre as críticas da Faesp de que apenas parte das demandas do setor foram atendidas, Tirso disse que aguarda o decreto de Doria sobre o fim do aumento para avaliar os próximos passos.