Estudantes foram agredidos após protestarem contra a aprovação do PL. (Foto: Reprodução/X)
Estudantes foram agredidos após protestarem contra a aprovação do PL. (Foto: Reprodução/X)


O projeto de lei que cria o Programa Escola Cívico-Militar na rede pública de ensino de São Paulo foi aprovado nesta terça-feira (21) na Assembleia Legislativa do estado (Alesp) por 54 votos favoráveis e 21 contrários. A proposta segue agora para sanção do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), autor do projeto.

O projeto estabelece que o programa poderá ser adotado em escolas a serem construídas ou em unidades já integrantes da rede. Antes da implementação, serão realizadas consultas públicas para que a comunidade tenha o poder de decidir se aceita o modelo.

Segundo o Executivo, o modelo cívico-militar será direcionado a escolas com índices de rendimento inferiores à média estadual, atrelados a taxas de vulnerabilidade social e fluxo escolar – aprovação, reprovação e abandono.

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Estudantes contrários à medida tentaram acompanhar a votação, mas foram impedidos pela Polícia Militar que agrediu os alunos e usou spray de pimenta para afastar os manifestantes. Vídeos divulgados nas redes sociais registraram a confusão.

Estudantes são agredidos pela PM na Alesp. (Foto: Reprodução)

Em postagem no X, antigo Twitter, o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP), de 82 anos de idade, afirma que tentou “mediar o entendimento” e foi surpreendido com spray de pimenta e paredão da Tropa de Choque da PM que desde cedo impedia o acesso dos estudantes ao plenário.

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Durante o confronto, sete estudantes foram detidos ou apreendidos pela Polícia Militar.

“O governador quer aprovar o PL na base da violência, esse é o projeto de educação que eles têm para São Paulo: cassetete e gás lacrimogêneo”, publicou em protesto a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL), que também compartilhou imagens dos alunos sendo agredidos e criticou a gestão de Tarcísio de Freitas.

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Obediência e hierarquia

A essência do projeto, segundo a professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, Catarina de Almeida Santos, é trazer os princípios que regem a área de segurança e das corporações militares para dentro das escolas.

“São os princípios vinculados à obediência e hierarquia”, explicou – em entrevista à TV Brasil, emissora da EBC – a pesquisadora, que faz parte da Rede Nacional de Pesquisa Sobre Militarização da Educação.

A professora vê pouco sentido em trazer profissionais da segurança pública ou do meio militar para cuidar de processos de aprendizagem.

Projeto foi aprovado com 54 votos favoráveis e 21 contrários. (Foto: Reprodução)
Projeto foi aprovado com 54 votos favoráveis e 21 contrários. (Foto: Reprodução)

“Independente de qual força ou de qual agente sejam, eles não têm função educativa, eles não são educadores, eles não têm formação para lidar com crianças, jovens e adolescentes, muito menos para o processo de ensino e aprendizagem. Então, obviamente, pedagogicamente, não há benefícios com a militarização”, opinou.

As áreas de segurança e de educação também têm diretrizes conflitantes, na avaliação da pesquisadora.

“Quando a gente está falando da área de segurança, a questão da disciplina e tendo disciplina como obediência à ordem, a ordem hierarquicamente falando faz parte disso. Na área de educação, não. O processo educativo se dá no diálogo, se dá na pergunta, se dá dúvida e se dá nessas relações de forma mais horizontal”, finalizou.

Protestos

Em uma sessão com protesto e prisões, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) aprovou, nessa terça-feira (21), a criação de escolas cívico-militares. O projeto – de autoria do governo Tarcísio de Freitas – foi aprovado por 54 votos favoráveis e 31 contrários.

A Polícia Militar reprimiu manifestantes que protestaram dentro da Assembleia contra o projeto de lei. Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP), foram presas oito pessoas. Dois menores de idade foram liberados ainda na terça-feira com a presença de seus responsáveis. Os adultos foram encaminhados nesta quarta-feira (22) para audiência de custódia e liberados.

Estudantes que protestavam apanharam da PM e foram detidos. (Foto: Reprodução/Paulo Gomes/TV Globo)
Estudantes que protestavam apanharam da PM e foram detidos. (Foto: Reprodução/Paulo Gomes/TV Globo)

A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (Anpg) divulgaram nota pedindo a liberação dos presos no protesto.

As entidades afirmam ainda que a Polícia Militar  “usou de violência física e gás lacrimogêneo para oprimir os manifestantes”. Segundo o comunicado, uma jovem teve o braço quebrado pela ação da polícia.

A SSP disse que as equipes da PM acompanhavam a votação “quando um grupo tentou invadir uma área restrita”, provocando “tumulto”.

As organizações estudantis classificaram a aprovação do projeto como parte da “série de ataques à educação e à ciência paulistas promovidos pelo governador Tarcísio de Freitas”, de São Paulo.