Por Henrique Lucarelli
Em algum grau, o que vamos discutir neste artigo bem serve para a cidade de Fartura como para as demais que o Portal 014 cobre, em razão das proximidades geográfica, salvo as particularidades – presença de setor industrial, proximidade com a Represa de Chavantes e outros fatores. O que vamos escrever aqui é tão apenas uma análise dos resultados da eleição de 2018 à luz do ano eleitoral de 2022.
Nas últimas eleições gerais, aquela que elegemos presidente, governador, deputados e senadores, no primeiro turno, Fartura deu 47,4% a Jair Bolsonaro (atualmente no PL, na época no PSL), 18,3% a Geraldo Alckmin (atualmente no PSB, na época do PSDB), 16,3% a Fernando Haddad (PT) e 12,4% a Ciro Gomes (PDT). Em segundo turno, o resultado foi 67,8% para Bolsonaro e 32,2% para Haddad.
A imagem mais óbvia é que a grande maioria dos simpatizantes de Ciro foram para Haddad e de Alckmin para Bolsonaro na segunda leva de votos. Ocorre que, neste ano, o xadrez político mudou um bocado. O PT retira Haddad e apresenta Lula como cabeça de chapa em uma aliança com o Geraldo Alckmin, o antigo governador estadual com grande prestígio, especialmente nas cidades do interior de São Paulo.
A pergunta que me surge na cabeça é como a população de Fartura, e da nossa região, vai se comportar frente à aliança. Geraldo vai fazer o dever de casa e conquistar apoio a sua chapa? Se a nossa região refletir as pesquisas nacionais, parece que há um “bolsonarismo envergonhado” que se afasta nos momentos de crise (interferência da PF, compra de vacina, rachadinha, o ‘bolsolão’ do MEC, inflação e desemprego), mas que, em poucos dias de calma, volta para a aba do atual presidente e assume o voto na reeleição. O que em tese dificultaria a tarefa de Alckmin.
O caso é que essa eleição dificilmente vai repetir a anterior, especialmente para Bolsonaro, que não é mais um nome novo, seu oponente não é o pouco carismático Haddad, mas uma aliança de nomes muito conhecidos, e a crise social que enfrentamos não pode ser culpa dos antigos governos, afinal ele concorre à reeleição.
Nesse cenário, para onde vão jogar as forças locais? Não temos na cidade um diretório do PL para organizar a campanha de Bolsonaro. O PSDB, partido mais estruturado municipalmente, vai emendar uma campanha para João Doria – com pouco apelo popular até o momento. Como a população de Fartura vai agir frente ao passivo de Alckmin? E quem vai pedir voto para os progressistas?
Parece que as lideranças políticas atuais de Fartura vão fazer um jogo de “vaca amarela”. Para escapar dessa bola dividida, não vão fazer campanha para presidente, falando o menos possível da disputa por esse cargo, fingindo que Fartura não fica no Brasil. Deixando a escolha desse voto a cargo da consciência individual, fugindo ao papel de direção e com receio de admitir o voto.
Contudo, na política não há vácuo; se um espaço se abrir, ou seja, se os líderes se abstiverem de se manifestar, uma lacuna aparece e pode ser ocupada por novos personagens. E talvez essa seja a grande novidade das eleições de 2022 para Fartura e região.
Henrique Lucarelli é professor e mestre em História pela Unicamp.
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