Por Celso Felizardo

O tempo não para. Nesta terça-feira, 7 de julho, completam-se 30 anos que o poeta Agenor de Miranda Araújo Neto, mais conhecido como Cazuza, partiu em um trem para as estrelas. Uma prova de que o tempo não para é que até o “para” perdeu seu acento. Agora, verbo e preposição são homônimos perfeitos, com a mesma grafia e mesmo som, mas com significados diferentes.

As mudanças nas últimas três décadas, porém, foram muito além de reformas gramaticais. Hoje, com o avanço da medicina, a Aids já não assusta como antes, o que se tornou motivo de preocupação. No distópico ano de 2020, o inimigo viral agora é outro e usa coroa, una corona.

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A internet chegou para revolucionar e deixar em um passado longínquo as ligações por mar e terra via embratel. As distâncias se tornaram tão curtas como um sonho bom, mas o conceito de “solidão a dois” foi elevado à última potência. Vivemos a era da comunicação, mas ainda sofremos com tanta babaquice, tanta caretice, com a eterna falta do que falar.

Depois de o dia nascer feliz em janeiro de 1985, o Brasil mostrou a sua cara. Uma cara horrível. Passado um breve período de falsa sensação de que a democracia brasileira ganhava tônus muscular e maturidade, descobriu-se uma horda de gente careta e covarde. As varizes aumentaram e os insetos, por serem tantos, ofuscaram a lâmpada. Suas ideias continuam não correspondendo aos fatos. E isso agora tem definição com nome em inglês e tudo: fake news.

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Mais uma vez, o futuro repete o passado. Milhões de pierrots retrocessos a desejar a volta do regime de exceção. Têm saudades do tempo em que um terço da população brasileira era analfabeta, de quando a desigualdade era ainda maior que a atual, de um milagre econômico que não passou de mais um voo de galinha. Definitivamente, o Brasil tem quase nada a ensinar ao mundo. O brasileiro não precisa ser estudado, é ele que tem que estudar, já cravaram em uma rede social por aí.

Mas ainda há esperança, grande pátria desimportante. Ainda não estamos novamente por um triz, mas o dia há de nascer feliz novamente.

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(Foto: Divulgação)