Secretaria disse que irá utilizar apenas livros literários em formato físico a partir do ano que vem. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Secretaria disse que irá utilizar apenas livros literários em formato físico a partir do ano que vem. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)


A partir de 2024, o governo de São Paulo não irá receber livros didáticos físicos do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD). A notícia foi destaque nesta semana no site da CNN Brasil.

Assim, as escolas estaduais terão, a partir do 6° ano do ensino fundamental, apenas o uso de material 100% digital, enquanto o material físico ficará limitado aos anos escolares iniciais.

Em nota, a Secretaria de Educação afirmou que “permanece ativa no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) para a distribuição de livros literários”.

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“A Educação de SP possui material didático próprio alinhado ao currículo do estado e usado nas 5,3 mil escolas, mantendo a coerência pedagógica. Para os anos iniciais, material digital com suporte físico; nos anos finais e ensino médio, material 100% digital”, completou.

A Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais (Abrelivros), entidade que reúne as editoras de livros escolares, manifestou-se contra a iniciativa do governo paulista de abrir mão da verba destinada do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

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“A decisão afeta cerca de 1,4 milhão de alunos e 100 mil professores do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano), de 3.818 escolas estaduais de São Paulo, que receberiam gratuitamente quase 10 milhões de livros através do PNLD; e outros 1,3 milhão de alunos do Ensino Médio, de 3.765 escolas”, afirmou em comunicado.

A Abrelivros disse também que ” há uma dicotomia entre os livros do PNLD e os materiais próprios da rede de São Paulo, que coexistem e se complementam harmoniosamente há anos”.

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“Não há qualquer prejuízo à coerência pedagógica do sistema de ensino ao se disponibilizar mais material educativo de qualidade para alunos e professores. E isso sem qualquer investimento financeiro por parte do Estado de São Paulo”, continuou.

Em nota, o Ministério da Educação afirmou que a “permanência no programa é voluntária, de acordo com a legislação”, e que o “MEC segue de portas abertas ao diálogo e à cooperação junto a estados e municípios, sempre cumprindo o papel de articulação dos entes para a construção de uma educação pública, gratuita e de qualidade para os estudantes brasileiros”.

O ensino a distância cresceu muito após o período da pandemia de covid-19. (Foto: Divulgação/Prefeitura de Várzea Paulista)
O ensino a distância cresceu muito após o período da pandemia de covid-19. (Foto: Divulgação/Prefeitura de Várzea Paulista)

Na Suécia, digitalização foi criticada

Uma decisão recente do Ministério da Educação da Suécia – um dos países com um dos sistemas de educação mais modernos do mundo – demonstra os riscos à aprendizagem trazidos pela política de digitalização da sala de aula. O país suspendeu um plano ambicioso de digitalização do ensino após a nota do país despencar em exames que avaliam desempenho de leitura.

“Estamos em risco de criar uma geração de analfabetos funcionais”, advertiu a ministra da Educação, Lotta Edholm, após ver a nota do país despencar no Estudo Internacional de Progresso em Leitura (PIRLS), exame internacional que avalia o desempenho em leitura de estudantes.

Segundo matéria publicada no jornal francês Le Monde, a ministra concluiu que o mau desempenho é resultado da implementação de recursos digitais nas escolas de forma acrítica. E o processo não ocorreu às pressas: num processo que se iniciou há 15 anos, a Suécia vem substituindo os livros físicos didáticos por computadores, tablets, aplicativos e plataformas tecnológicas.

As consequências negativas foram observadas em toda a comunidade escolar. Alunos perderam o hábito da leitura, professores ficaram sem acesso a livros e as mães, pais e responsáveis não conseguem ajudar seus filhos.

Decisão na Suécia se baseou em evidências de que os livros são mais eficientes para o aprendizado das crianças. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Decisão na Suécia se baseou em evidências de que os livros são mais eficientes para o aprendizado das crianças. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

‘Vantagens que nenhum tablet pode substituir’

Para reverter a situação, além de barrar a estratégia de digitalização, o ministério da educação da Suécia lançou um programa de reintrodução dos livros para recuperar a capacidade de leitura estudantil. Os livros têm “vantagens que nenhum tablet pode substituir”, argumentou.

O plano prevê o investimento de 150 milhões de euros até 2025. “O relatório do PIRLS é um sinal de que temos uma crise de leitura nas escolas suecas. No futuro, o governo quer ver mais livros didáticos e menos tempo de tela nas escolas”, disse a ministra.

A decisão do ministério sueco de abandonar o programa ambicioso de digitalização foi embasada em evidências científicas apresentadas por mais de 60 especialistas. “Todas as pesquisas sobre o cérebro em crianças mostram que elas não se beneficiam do ensino com base em telas”, explicou a ministra.

Alerta da Unesco

Mesmo com 60 especialistas corroborando sua decisão, a Suécia não está sozinha nessa guinada de volta ao impresso. Em relatório recente divulgado pela Unesco, com o título “Tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?”, a agência também alerta sobre os impactos negativos da introdução de tecnologias na educação sem qualquer diálogo ou reflexão crítica.

O documento é mais um que põe em xeque o modelo educacional digital, e destaca que a tecnologia sozinha não garante bons resultados. No Peru, por exemplo, mais de um milhão de laptops foram distribuídos sem qualquer impacto na aprendizagem.