Para o educador, não há opções no pleito deste ano que acabem com o
Para o educador, nenhuma opção entre os candidatos a prefeito deste ano acaba com o "Fla-Flu" da política farturense. (Foto: Sudoeste do Estado)


Terceiro vereador mais votado da cidade de Fartura nas eleições municipais de 2016, com mais de 500 votos, o professor Henrique Lucarelli naturalmente era um nome aguardado por diversos eleitores farturenses no pleito deste ano. No entanto, o educador, que não conseguiu se eleger quatro anos atrás e deixou o PSOL para se filiar ao PDT recentemente, veio a desistir de participar do processo em 2020.

Em entrevista ao Portal 014, Henrique contou que o trabalho como professor nas unidades do Centro Paula Souza de Ipaussu e Taquarituba (e, mais recentemente, como coordenador) foi um impeditivo para se dedicar à carreira política nos últimos anos. “Exigiu adaptação, e isso me fez ficar longe da vida de militante partidário”, disse.

A distância da militância acabou influenciando o que estaria por vir: com um discurso bastante alinhado à causa da justiça social, o aspirante a vereador imaginava fazer parte de um grupo político que representasse uma nova opção para o eleitor farturense, mas acabou se frustrando: “O meu projeto inicial sempre foi acabar com essa disputa infantil entre vermelho e amarelo, mas o PDT, partido que eu estava filiado, foi por outro caminho, selando de vez minha impossibilidade de candidatura.”

PUBLICIDADE

‘PSDB não quis admitir erros’

Atualmente com 31 anos de idade, o professor reconheceu que a opção do PDT em embarcar em uma chapa com o PSDB, representado pelo ex-vereador e pré-candidato a prefeito Luciano Filé, influenciou sua decisão. Falta de diálogo não houve, mas pesou uma contrapartida, pedida pelo grupo do qual o professor fazia parte, que não seria atendida: o partido tucano deveria reconhecer seus erros na condução política da cidade de Fartura durante suas gestões.

Era sabido que, dentro do PDT, havia um filiado que queria se aliar ao PSDB como vice na chapa; o empresário Pedro Langeli, mais conhecido como Pedro da Maxi. Seu Pedro apresentou sua proposta e ficou acertado que seria elaborada uma carta-compromisso.

PUBLICIDADE

“Neste documento, além das possibilidades de gestão futura para a cidade, meu desejo era que o PSDB reconhecesse e se desculpasse por erros do passado”, contou Lucarelli. “No meu entender, somente com isso a nossa aproximação seria adequada. Afinal, eu não me vejo ao lado de quem acha correto o que foi feito contra o Maryel Garbelotti – aquela perseguição e humilhação toda. Também não foi decente a atuação do PSDB na CPI do Ônibus que pegou fogo ou nas votações sobre o salário dos vereadores.”

Para o professor, o PSDB perseguiu Maryel – que foi vereador e integrante do partido – e, em seguida, votou para arquivar o relatório de uma CPI do Ônibus, que apontava falsificação de documentos. Em relação aos salários dos vereadores, a Câmara Municipal de Fartura chegou a aprovar, entre o Natal e o Ano Novo do ano passado, um reajuste que foi considerado abusivo por parte da população farturense, que por sua vez protestou assiduamente nas redes sociais até a revogação do projeto. Foi realizada na época uma sessão extraordinária para a discussão do assunto, o que foi considerado falta de transparência por veículos de imprensa locais.

PUBLICIDADE
O professor de 31 anos ainda crê que os candidatos a vereador do PDT são os mais bem preparados. (Foto: Reprodução/Facebook)

Ser professor é um ato político

Apesar de no momento estar se dedicando às funções de professor e coordenador escolar, Henrique Lucarelli não se esquece de que a relação entre sua profissão e a política é intrínseca. Para ele, um professor sempre tem atuação política. “Todos, nos menores atos, têm atuação política; recolher o lixo é uma ação política, ter responsabilidade pelas crianças e idosos é uma atuação política”, explicou.

Entre os vários nomes de candidatos a vereador que se multiplicaram no pleito deste ano, o educador ainda crê que a chapa do PDT “é a mais comprometida com uma política séria, de fiscalização e de ideais”. Por outro lado, um cenário parecido não é visto por ele na disputa pelo cargo de prefeito: “Para prefeito, infelizmente, ainda não temos uma possibilidade que acabe com a divisão da cidade e tenha, ao mesmo tempo, boas propostas políticas.”

‘Nova política’ com velhos nomes

Outra crítica ao novo grupo que se formou com a aproximação de PDT e PSDB foi o fato de alguns nomes não tão novos assim terem dado as caras na convenção que selou a aliança e divulgou os candidatos a vereador da chapa.

Questionado se não irá votar em nenhuma das opções na majoritária, Lucarelli explicou que até o momento ninguém o convenceu. “Há quem ainda aposte na aliança com o PSDB como caminho da inovação, mas, para isso acontecer, os tucanos não podem ser os tucanos que nos conhecemos até hoje”, cravou.

“Para eu mudar minha interpretação, tenho que ver ação e proposta. Mas os sinais que vejo me indicam que tudo ficará como está. O que uma personalidade como o Ricardo Madalena [deputado estadual do PL-SP] fazia na convenção se não a velha política? Samuel Moreira [deputado federal do PSDB-SP] e educação pública de qualidade também não frequentam o mesmo espaço. Dedo em riste, recados para adversários… Esses não são símbolos da paz que Fartura merece e precisa para prosperar”, continuou, em referência às declarações dadas no evento desta semana.

O professor Henrique, ao centro, quando ainda fazia parte do PSOL. Ao seu lado, o psicanalista Alan Cassemiro e a advogada Isabela Dealis. (Foto: Sudoeste do Estado)

Do PSOL para o PDT

O professor Henrique conquistou uma votação muito expressiva em sua primeira participação nas eleições, em 2016. Entretanto, não foi eleito na época em decorrência da regra do quociente eleitoral, em função da baixa quantidade de votos da legenda. Como a norma foi alterada desde 2018, caso obtivesse o mesmo resultado este ano, provavelmente estaria eleito.

Mesmo diante da frustração ao saber que chegou tão perto de ser o único vereador a não fazer parte de nenhum dos dois grupos que polarizam a política farturense, o ex-psolista e atual pedetista não culpou o seu antigo partido e sim a lei eleitoral brasileira. “Apesar de se basear no ideal de representatividade, [a lei] ainda permite aberrações, como foi o resultado das eleições de 2016. Ser candidato ou ter uma chapa é caro e burocrático, isso impede a novidade, dificulta a eleição de quem é crítico ao sistema numa eleição proporcional”, afirmou.

Indagado a respeito de algum tipo de arrependimento por ter mudado de sigla, disse que essa palavra é um pouco forte neste momento. “Havia possibilidades e limitações nos dois caminhos. O PSOL é eticamente o partido mais coerente no Brasil atual, mas não permite diálogo com outras legendas, o PDT é um partido mais aberto às possibilidades, tem transito. Foi uma escolha, não me arrependo. Como eu disse: uma pena que as circunstâncias não me permitiram ser um militante mais ativo”, confessou.

Antes de encerrar a entrevista, o educador garantiu que vê a possibilidade de uma terceira via como nula – além dos grupos de Zé da Costa (DEM) e Luciano Filé (PSDB), pelo menos os nomes de Doriveti Gabriel (Cidadania) e Elidia Vernier (PL) também deverão concorrer neste ano. “Nós tentamos fazer isso com o Paulo do Banco do Brasil, eu e outras pessoas que sonham assim. A bola sempre batia na trave. Mas a esperança não acaba”, prosseguiu, antes de enviar um recado ao eleitor que confiou o seu voto nele quatro anos atrás e pretendia votar novamente.

“A gente não perdeu nada, vamos seguir com a nossa autonomia, responsabilidade ética e estaremos atentos ao trabalho de qualquer um que seja eleito. Esse ano, eu vou às urnas com duas premissas: as mulheres precisam participar da política, uma Câmara com nove homens não representa a sociedade de Fartura. E não devemos reeleger ninguém, vereador que marca sessão escondida para votar o próprio salário tinha que ter vergonha de fazer campanha. Meu voto vai para quem poderá falar por mim de maneira justa, e não ser um carrasco do povo”, finalizou.