Por Marco Henrique
Em primeiro lugar, posso dizer com toda convicção que o Partido dos Trabalhadores hoje é o partido menos preocupado em dar alguma resposta aos anseios da população brasileira. Desde 2013, a população pede renovação da classe política e, quando foi às ruas extravasar várias insatisfações, dentre inúmeras demandas essa era a mais evidente. Ainda assim, em 2014, o Brasil elegeu Dilma Rousseff, que não apresentava nenhuma renovação em seus modelos, projetos e propostas. Nem ela, nem ninguém.
Para sorte petista, do outro lado o adversário era o tucano Aécio Neves, que trazia mais do mesmo e que concentrou sua campanha em ataques e não propostas, até porque também não tinha proposta.
Quatro anos depois, em 2018 foi a vez inventar mais um candidato.
Dessa vez Fernando Haddad, ex-ministro da Educação do governo Lula onde fez um bom e reconhecido trabalho, mas em 2018 era recém reprovado na administração da cidade de São Paulo, pois havia perdido a reeleição em 1° turno nas eleições de 2016 com míseros 16% dos votos válidos, contra 54% de João Dória.
Para a presidência de 2018, o PT tornou a não apresentar nada de novo e apostou que o desfecho seria o mesmo de 2014, já que o adversário também nunca apresentou nenhum projeto ou proposta e era moralmente e intelectualmente inferior a Aécio Neves.
Fernando Haddad concentrou 47 milhões de votos, isso serviu de munição para argumentos de que ainda existe aceitação popular em massa pelo Partido dos Trabalhadores.
Uma retórica calculada e explorada estrategicamente como forma de ganhar autoridade e manter o lulopetismo dando as cartas na esquerda.
A militância petista, que pouco questiona as decisões do partido, adotou a narrativa. Porém, com um mínimo de observação da realidade é possível perceber que isso não é verdade, já que com a polarização o eleitorado se dividiu, e parte da população votou contra o bolsonarismo e não em Fernando Haddad, o mesmo aconteceu do outro lado onde milhões de pessoas votaram contra o petismo, não em Jair Bolsonaro. Foi uma eleição em que o Brasil tentou escolher o mal menor.
Mas os petistas preferiram acreditar que o voto em Haddad teria sido por seleção, quando maior parte foi por exclusão.
Sabemos que o processo de aposentar as velhas raposas dos partidos e se reestruturar com novas ideias e atores políticos não é fácil, nem rápido.
Tanto que foi essa ausência de resposta e morosidade da classe política que culminou na eleição de Jair Bolsonaro, um dos deputados mais inoperantes da história, com 30 anos de Congresso e que colocou toda família na política, incluindo filhos, irmãos e ex-mulheres.
Mas, incorporando o personagem da renovação, pregando moralismo religioso, explorando a revolta popular e amparado por um sistema industrial de produção e disseminação de mentiras e fake news, ele conseguiu se eleger.
Bolsonaro foi o resultado da falta de resposta da classe política aos anseios da população.
Agora, mesmo com toda a morosidade política, após o desastre democrático de 2018, muitos partidos começaram a se renovar, melhorar suas estruturas e qualificar seus filiados e candidatos.
O PT não!
Nada muda no PT desde 2002 quando Lula chegou ao poder. Nenhuma mudança substancial, com exceção de que muitos de seus membros foram presos e precisaram ser substituídos, e alguns outros precisaram ser inventados para tapar buracos. Nem quando Lula foi preso houve qualquer movimento em direção à renovação ou um novo projeto, já que de dentro da Polícia Federal de Curitiba ele orquestrava o partido.
Em suma, o PT não tem autocrítica e por isso reluta em avançar, o partido pouco se importa com a opinião popular. Não muda projetos, não muda propostas, não muda a forma de fazer marketing, não altera suas campanhas e não troca os atores políticos. No mesmo embalo, a militância não muda os argumentos mesmo que sejam totalmente incoerentes – e por vezes infantis.
Aliás, a militância petista parece perdida e incapaz de seguir em frente desde que a bandeira Lula Livre esgotou. É como se tivessem criado uma dependência já que essa foi a única preocupação durante tanto tempo – como muitos disseram, Lula valia mais preso do que solto.
Nesse momento em que o PT foi novamente atropelado nas eleições municipais, presenciando a rejeição pelo partido viva e comprovada pela 3° eleição consecutiva, membros definem como ‘pesado’ o clima nos bastidores.
A rejeição de grande parte do partido pela presidenta Gleisi Hoffmann, aliado a outro mal resultado, esquentou os ânimos no Partido dos Trabalhadores.
Lembrando que em 2019 um forte movimento encabeçado por uma notória corrente dentro do partido pedia Fernando Haddad como presidente nacional, porém Lula não deu a benção a esse movimento o que fez o próprio Fernando Haddad não se esforçar em suas articulações para alcançar o cargo.
Outra coisa que incomoda dentro do partido é a provável candidatura de Gleisi Hoffman à presidência ou vice-presidência nas próximas eleições, mostrando que se nada mudou no PT até o momento, também não será em 2022.
O número de prefeituras conquistadas pelo Partido dos Trabalhadores caiu vertiginosamente nessas últimas eleições de 2020, vejamos:
2012: 637 prefeitos eleitos
2016: 255 prefeitos eleitos
2020: 183 prefeitos eleitos (duas vezes menos)
Das 15 prefeituras onde o PT disputou o 2° turno, perdeu 11. E nas Câmaras Municipais a situação não foi melhor:
2012: 5185 vereadores eleitos
2016: 2813 vereadores eleitos
2020: 2658 vereadores eleitos (praticamente a metade)
Na capital paulista, pela primeira vez na história o PT não colocou um de seus candidatos entre os dois mais votados. Jilmar Tatto, candidato petista, mesmo com Lula trabalhando em sua campanha não conseguiu mais do que 8,6% dos votos, menos do que o youtuber Arthur do Val.
O mais triste nisso tudo é que, sem sinais de que algo possa ser diferente em 2022, a militância petista já se concentra em trabalhar, mas não para construir e sim desconstruir.
Observando o sucesso da aliança nacional PDT-PSB, será uma consequência evidente o aumento dos ataques petistas contra Ciro Gomes, lembrando que esse modo de operar é recorrente e já foi realizado com Marina Silva em 2014.
Até mesmo Guilherme Boulos pode virar alvo, se esse não curvar a Lula.
Afinal o PSOL, após os bons números nas as eleições 2020, talvez queira criar vida própria e crescer no cenário nacional, vindo a ser empecilho para o maior partido de esquerda do Brasil, que está em notória decadência.
E todos sabem que o PT não gosta de quem tenta abrir caminhos independentes na esquerda, muito menos agir e pensar sem a bênção do Lula.
Eu já notei essa semana que blogueiros, jornalistas e formadores de opiniões, reconhecidos petistas, estão virando seus canhões na direção de Ciro Gomes.
No geral, com críticas rasas acerca de sua pessoa. Até o momento não vi nada que proponha debater ou contrapor o seu projeto nacional de desenvolvimento.
A estratégia petista nesse momento me parece clara, brigar dentro da esquerda para colocar o Brasil novamente diante de uma escolha de Sofia ‘Petismo X Bolsonarismo’ , mesmo que isso custe mais 4 anos de obscurantismo para nosso país.
Um prejuízo já calculado e pequeno para quem parece pouco preocupado com o interesse coletivo e que não coloca as necessidades do povo como prioridade há muito tempo.
Marco Henrique tem 36 anos, é jornalista, escritor e estrategista político. Há dez anos atua profissionalmente nos bastidores do cenário político realizando gerenciamento de campanhas e estratégias eleitorais para diversos atores políticos e partidos. É constante estudante da história política nacional e seus desdobramentos.
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