O motorista do ônibus envolvido em um trágico acidente registrado no dia 25 de novembro, entre as cidades de Taguaí e Taquarituba, falou pela primeira vez a respeito do assunto para um veículo de grande repercussão nacional, a TV Record. Sua entrevista foi destaque no programa Domingo Espetacular do último fim de semana.
Mauro Oliveira explicou que havia um ônibus logo à frente na momento do acidente, e que esse ônibus freou bruscamente. “Na hora que eu pisei com tudo, eu vi que a traseira [do outro ônibus] foi crescendo, e eu atolei o pé e nada de pegar [o freio]. Nessa hora pensei: para onde eu vou?”, disse.
Se fosse para o acostamento, poderia cair em uma ribanceira que fica após a pista – para a qual, inclusive, o caminhão acabou sendo arremessado após o impacto. “Se eu fosse reto e batesse na traseira dele, ia ser uma tragédia também. Aí joguei para a esquerda, achei que poderia passar por ali”, continuou o motorista, que negou estar em alta velocidade. “Sempre andei dentro da lei das estradas.”
No local do acidente, o limite de velocidade é 80 km/h e a ultrapassagem não é permitida. À reportagem, a delegada responsável pelo caso, Camila Alves, afirmou que o ônibus estava acima do permitido no momento da colisão. Mauro, por sua vez, justificou-se que “andava sempre com pressa”, pois os veículos frequentemente apresentavam problemas. Pessoas envolvidas no acidente ou próximas de envolvidos também confirmaram que as quebras e contratempos eram muito comuns e que eram motivo de reclamação por parte dos funcionários.
“A fábrica não gostava que chegasse atrasado”, revelou o motorista em determinado momento da reportagem. Em outro, não segurou a emoção ao tentar se justificar. “O que eu pude fazer eu fiz. Não queria fazer aquilo com ninguém”, afirmou, aos prantos.
A informação de que a empresa responsável pelo ônibus operava de maneira ilegal foi reforçada pela delegada, que revelou que os documentos apresentados pela companhia perderam a validade no ano de 2012.
A defesa do motorista tem reunido argumentos para explicitar que o funcionário não tinha condições de trabalho aceitáveis. “O senhor Mauro era um funcionário humilde da empresa, sem registro. Isso já denota a má fé do empresário para não pagar direitos trabalhistas”, afirmou o advogado de Mauro, Hamilton Gianfratti.
Em nota, o advogado que representa a Star Fretamento e Locações afirmou que “todos os documentos foram entregues à Autoridade Policial, inclusive a autorização da Artesp” e o rastreador do ônibus. Na época do acidente, diversos veículos de alcance nacional publicaram que a empresa operava de forma clandestina.
Alguns dos envolvidos no acidente têm tomado medicação e realizado acompanhamento para amenizar os efeitos do trauma. Mauro, que está em outra cidade para não se expor, ainda revela que sofre ameaças, mesmo sendo amigo da maioria das 42 vítimas. Ele pode ser indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
A reportagem da TV Record – clique aqui para assisti-la na íntegra – mostra declarações com detalhes de passageiros do ônibus e do caminhão, além de pessoas próximas dos envolvidos na tragédia. A apuração ainda traz a informação de que a empresa têxtil que contratava os funcionários descontava o valor de R$ 100,00 no holerite dos trabalhadores, discriminado como “vale transporte”.
As 42 vítimas fazem parte de um grupo que ia todos os dias de ônibus para o trabalho, a maioria moradores de Itaí. A batida ocorreu em um trecho de curva conhecido como Serra dos Gobbo, na altura do quilômetro 172 da Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho (SP-249). O ônibus, que levava trabalhadores do setor têxtil de Itaí e Taquarituba para Taguaí, chocou-se com uma carreta que vinha na direção contrária.
A colisão entre os dois veículos foi considerada um dos piores acidentes automobilísticos do país e o pior registrado no estado de São Paulo em 22 anos.