Por Henrique Lucarelli
Neste domingo (15), mesmo enfrentando a pior crise sanitária da nossa geração, eleitores e eleitoras foram aos colégios eleitorais depositar os seus votos na urna eletrônica. Em nossa cidade, Fartura, os moradores tiveram a sua disposição três candidaturas para o cargo de prefeito(a), cada uma com suas particularidades de trajetória, porém com muitas semelhanças no campo partidário.
As legendas das candidaturas que encabeçavam as chapas para o executivo estavam todas no mesmo campo da política nacional: a centro-direita. O que deixou as campanhas sem nenhuma promessa de mudança estrutural. Portanto, alguém que fosse às urnas com um sonho de transformação profunda teria dificuldade de escolher seu candidato.
Rivais na cidade farturense, mas aliados em potencial no cenário estadual e nacional, os partidos tinham que estruturar suas campanhas em outras particularidades. Quem melhor leu esse cenário foi o PSDB, que sai dessas eleições mais robusto e fortalecido.
Conquistando uma boa diferença em relação aos segundos colocados, os tucanos apostaram em renovação do quadro interno e na aliança com o refundado PDT, dois elementos de vantagem em relação aos demais concorrentes. Pode não ser uma grande transformação, mas ainda sim uma mudança que os demais não conseguiram fazer.
Sustenta essa tese o quadro de vereadores e vereadoras que formarão a futura base de governo, com apenas uma reeleição – os demais são todos de primeiro mandato e são jovens. A ascensão de Filé deixa uma lição; que a reciclagem interna é fundamental, e que a dificuldade da principal coligação de oposição de encontrar um herdeiro político ao antigo prefeito Zé da Costa (DEM) atrasou a campanha. Enquanto um buscava consolidar seu nome, os outros ainda seguiram por muito tempo se perguntando “quem?”. E o mesmo aconteceu com a candidatura apoiada pelo atual prefeito Tinho Bortotti (PSB), que vacilou durante muito tempo com o nome de Pedro do Posto (Cidadania).
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A aliança com a centro-esquerda também pesou nesse cálculo. O PSDB é um partido antigo na cidade, enraizado e tradicional, e o PDT foi recentemente reestruturado. A coligação sem dúvida movimentou e trouxe votos dos progressistas, jovens e pessoas ligadas às questões sociais, representadas, por exemplo, nos 338 votos que recebeu Patrícia Braga, que formaram a diferença necessária para consolidar a vitória, mesmo que a pedetista não tenha sido eleita.
Por fim, essa foi a terceira vitória consecutiva dos tucanos, considerando que Tinho estava no PSDB nas eleições de 2012 e 2016, e mostra que a queda de braço entre vermelhos e amarelos deixou de ser competitiva. A cidade fica assim em um suspenso sobre o futuro. Será que podemos esperar uma renovação mais significativa, inclusive nos métodos administrativos, representada por essas mudanças? Ou, quando a poeira baixar, voltaremos para o antigo e criminoso: “aos amigos tudo, aos inimigos a lei?”
Henrique Lucarelli é professor e mestre em História pela Unicamp
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