Por Marco Henrique
No dia 27 de setembro de 2020, após adiamentos e muitas discussões, tiveram início as campanhas eleitorais municipais de 2020 em todo país. Neste ano, iremos eleger novos prefeitos e vereadores e em muitas cidades esse é um evento aguardado com ansiedade por toda a população; uma chance concreta de melhoria na qualidade de vida para seus moradores.
Uma característica inédita do pleito de 2020 foi provocada pelo novo coronavírus que deixou a “Velha Escola” desorientada. Ao perceber que, devido à pandemia, a nova tendência seria ter as eleições municipais se desenrolando com a presença massiva de candidatos e eleitores nas redes sociais, houve muita apreensão nos bastidores da política tradicional brasileira.
Em grandes e pequenos partidos, por todo país, houve planejamento para produção de materiais, estúdios foram montados por comitês e candidatos tiveram que estudar e correr atrás de pautas interessantes para cativar seus possíveis eleitores e espectadores através de vídeos e ferramentas nunca experimentadas.
Essa é uma tendência global inaugurada com o Brexit e as eleições americanas de 2016 e, por fim, as eleições presidenciais brasileiras de 2018. Ocasiões onde os vitoriosos jogaram todas suas fichas nas redes e confirmaram a eficácia da estratégia deixando adversários e opositores comendo poeira. Os políticos despreparados para o advento da internet nas campanhas ficaram tão atordoados que, quando acordaram, as eleições já estavam definidas.
Voltando para o nosso cenário, com as eleições adiadas para novembro e a pandemia dando sinais de que talvez o pior momento tenha passado, podemos ouvir o respiro aliviado da Velha Escola política saindo do isolamento que nunca existiu de fato nos municípios do Brasil. Mas as redes sociais vieram para ficar e são uma gigantesca bancada de discussão política que divide opiniões quando questionamos o quanto isso é saudável para o processo democrático.
Como alguém que observa os dois lados dessa trincheira, acredito que a rede possui seus prós e contras. Para a população, mais prós do que contras. Basta olharmos o quanto o meio político tenta se manter distante e se desviar da fiscalização e prestação de contas nas redes. O lado bom é que a população pode se expressar, cobrar autoridades e representantes, ser mais participativa e engajada na política em todas as esferas. No entanto, há um preço alto a se pagar por todos esses benefícios.
O lado ruim é que muitas informações compartilhadas são errôneas, sem fundamentação, descoladas da realidade e até mesmo falsas, criadas de forma intencional para atrapalhar o processo eleitoral. As chamadas fake news agora fazem parte de estratégias criminosas de desconstrução do lado adversário e disseminadas por desocupados profissionais. Sem falar no algoritmo que persegue os usuários com mais do mesmo, reafirmando suas crenças sem permitir que sejam expostos a opiniões contrárias para que possam tirar as suas próprias conclusões.
Fato é que percebemos por todo Brasil uma discrepância quanto à adesão dos jovens iniciantes na vida política e a Velha Escola. Enquanto os mais novos buscam a utópica renovação, exploram as redes sociais ampliando o número de amizades, gravando vídeos, expondo seus projetos e ideias, a Velha Escola procura fazer o básico e se mantém o mais distante possível.
O motivo não me parece tão difícil de se deduzir. Levando em conta que, nas redes sociais, tudo que você diz fica registrado, nas ruas há um campo fértil para a velha política do “toma lá dá cá” que nós brasileiros conhecemos tão bem. Além de promessas mentirosas, projetos megalomaníacos sem fundamento e compra de votos, comportamentos praticamente naturalizados tamanha a frequência com que presenciamos tais atitudes.
Sem contar a facilidade de aplicar as velhas fórmulas e obter resultado. O eleitor fora das redes é menos exigente, ele não cobra tanto comprometimento do seu candidato, nem volta para cobrar e fazer reclamações com potencial de viralizar. Em muitos municípios, temos visto grande parte da população querendo explorar as ferramentas que hoje a tecnologia democratizou, propor debates e mais propostas de governos, enquanto a Velha Escola se esquiva fazendo o possível para proteger suas campanhas que sempre deram certo. Eles fingem não enxergar que o mundo e a política mudam o tempo todo e, para 2020, acredito que ainda conseguirão manter as campanhas oferecendo mais do mesmo até o fim.
O cenário vai continuar se desdobrando pelos próximos dias e só podemos observar o discurso hipócrita e raso, inerente ao despreparo dos candidatos que apelam para o pouco produtivo agito e barulho das ruas. Enquanto isso, nas redes sociais, a dinâmica será outra. A produção de conteúdo, limitada a alguns poucos e empenhados candidatos, seguirá sem medo de expor ideias e imagem. Com a onda de calor aumentando, precisamos tomar cuidado porque os velhos escorpiões da política começam a aparecer em todos os cantos e ruas. Se bobear, eles entram até na sua casa.
Marco Henrique tem 36 anos, é jornalista, escritor e estrategista político. Há dez anos atua profissionalmente nos bastidores do cenário político realizando gerenciamento de campanhas e estratégias eleitorais para diversos atores políticos e partidos. É constante estudante da história política nacional e seus desdobramentos.
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