Sem uma boa integração entre o Ministério da Saúde, os estados e os municípios, o atendimento no país estaria se pautando por decisões isoladas, deixando de ser homogêneo. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Imagem ilustrativa. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)


Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou que pouco mais de 11,3 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 foram aplicados pelos municípios do país em moradores de outras cidades. Os números preocupam. De acordo com os pesquisadores da instituição científica, o planejamento das secretarias municipais de saúde e o cumprimento de metas acabam prejudicados com esse cenário. A situação também causa variações no percentual de imunizados nas diferentes cidades.

Os dados do estudo foram divulgados nesta quarta-feira (23) em uma nota técnica da Fiocruz. Ela revela que, a cada seis doses aplicadas no Brasil, uma foi destinada a indivíduos que vieram de uma cidade diferente. Na média, essas pessoas viajaram 252 quilômetros até o local em que foram vacinados.

A análise levou em conta os registros do sistema de informações do Plano Nacional de Imunização (PNI) em 16 de junho. Até essa data, eram contabilizadas 73,8 milhões de doses aplicadas no país. Dessa forma, os atendimentos a pessoas que vivem em outras cidades supera 15% do total.

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Coordenação nacional

Segundo a nota técnica, o problema deve ser enfrentado com uma melhor coordenação nacional: sem uma boa integração entre o Ministério da Saúde, os estados e os municípios, o atendimento no país estaria se pautando por decisões isoladas, deixando de ser homogêneo. Dessa forma, muitas pessoas se dirigem às cidades onde a imunização está mais adiantada.

“A vacinação é um procedimento de baixa complexidade e que deve ser realizado na atenção básica de saúde, sendo dispensável o deslocamento de pessoas em busca da vacina. Longos deslocamentos  devem ser evitados, bem como a sobrecarga de alguns municípios que vêm sendo procurados por anteciparem o calendário por idade, ou adotarem critérios próprios para a priorização de grupos vulneráveis”, registra a nota técnica.

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O levantamento mostrou ainda que 51,8% dos municípios do país aplicaram menos doses de vacinas do que a média nacional. Para os pesquisadores da instituição, esse percentual é um indício de que o esforço nacional de imunização tem falhado em garantir que a população seja atendida de maneira homogênea, com proporções similares nas diferentes cidades.

Cidades

De acordo com os pesquisadores, a falta de doses que levou à interrupção da vacinação em São Paulo na última terça-feira (21) pode ter sido reflexo do problema. O levantamento constatou que a capital paulista aplicou 257.159 doses de seis municípios vizinhos: Guarulhos, Osasco, Santo André, Diadema, Taboão da Serra e São Bernardo do Campo. Além disso, a prefeitura de São Paulo também vacinou um número considerável de moradores de outras capitais. Foram aplicadas 29.392 doses em moradores do Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba e Brasília.

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Situação similar acontece na capital fluminense. Os postos de saúde atenderam um total de 156.256 moradores de cidades vizinhas como Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Niterói e Belford Roxo. São listados exemplos em outras capitais: Belo Horizonte aplicou 39.443 doses em pessoas que moram em Contagem e Recife destinou 35.695 para atender aqueles que vivem em Olinda.

“Alguns  municípios  da  mesma  região  metropolitana  podem  ser sobrecarregados pela procura por vacinas originada de municípios vizinhos. Também são importantes os fluxos em busca de vacina de municípios do interior para as capitais e os deslocamentos interestaduais para imunização”, registra a nota técnica.