Irmãos com doença rara recebem transplantes de coração com 48 horas de diferença em Botucatu. (Foto: Hospital das Clínicas de Botucatu/Divulgação)
Irmãos com doença rara recebem transplantes de coração com 48 horas de diferença em Botucatu. (Foto: Hospital das Clínicas de Botucatu/Divulgação)


Noeli e os filhos Paloma, 19; e Gustavo, 18, são moradores da cidade de Garça e portadores de uma doença cardíaca rara chamada Doença de Danon. Segundo o Coordenador Clínico do Transplante Cardíaco do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), Dr. Flavio Brito, a doença causa hipertrofia do músculo cardíaco. “O músculo fica mais espessado e, em alguns casos, o coração pode dilatar”, diz.

A doença não tem tratamento, sendo o transplante cardíaco a única opção. Noeli conseguiu um novo coração há dois anos. “Logo após o meu transplante, eu deixei tudo de lado para cuidar deles”, diz. Os jovens passavam por acompanhamento semanal no Serviço de Cardiologia do HCFMB e, há 8 meses, estavam na fila pelo transplante.

Em 48 horas, a vida deles mudou. Na sexta-feira, 2, Gustavo recebeu a notícia de um órgão compatível no estado do Paraná. Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) auxiliou na captação. Enquanto isso, a equipe do Programa de Transplante Cardíaco se mobilizava para realizar o procedimento.

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“A pandemia nos faz reduzir algumas cirurgias, devido à lotação de leitos Covid. Mas sabemos também da importância de casos como este. Quando se fala em coração, agimos com ele”, afirmou a Diretora de Assistência do HCFMB, Dra. Erika Ortolan.

Órgãos para transplante foram trazidos até o Hospital das Clínicas de Botucatu. (Foto: Hospital das Clínicas de Botucatu/Divulgação)

Enquanto Noeli se dividia entre cuidar de Gustavo, que se recuperava na UTI Coronariana do HCFMB, e de Paloma, que continuava seu tratamento em casa, a Organização de Procura de Órgãos (OPO) do HC realizava uma captação de um novo órgão no próprio Hospital. No domingo, veio a notícia: após a oferta passar por toda a lista de doadores, apenas Paloma era compatível, e ela realizou o transplante no mesmo dia.

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O que até aqui poderia parecer impossível – até para a equipe médica – explica o porquê de se pensar em destino. Dois irmãos conseguiram dois órgãos compatíveis em um intervalo de dois dias. Duas famílias disseram sim à doação de órgãos, salvando duas vidas. Algumas coisas na vida acontecem de um jeito tão inesperado que não dá pra achar que foi acaso, e sim que era pra ser.

“Um verdadeiro milagre. Quando veio a notícia do segundo órgão, foi uma alegria. Agora estou feliz por completo. Só posso agradecer a Deus, à medicina e às famílias que, mesmo em um momento difícil, decidiram salvar duas vidas. Agora, espero a recuperação dos dois, e o melhor: todos juntos”.

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Os jovens estão estáveis e sob cuidados da equipe médica do Hospital. Para o Chefe do Programa de Transplante Cardíaco Dr. Marcello Felicio, em tempos tão difíceis, histórias como essa fortalecem. “Procuramos usar as dificuldades como combustível para vencer os obstáculos. O transplante é uma causa nobre que nos motiva. O sentimento é de gratidão pelas famílias que disseram sim, pelo apoio de toda área administrativa do hospital, que nos ajudou a viabilizar os procedimentos e principalmente por ver que dois irmãos terão uma nova chance”.

“Em meio a pandemia que tomou conta de todos nós e que até hoje só vemos agravar, presenciamos e vivemos histórias inacreditáveis de tão belas: dois novos corações foram transplantados em dois jovens irmãos com a mesma doença cardíaca. O HC e Botucatu tornam-se a mãe que não viu esses filhos nascerem, mas sim, renascerem”, finaliza o Superintendente do HCFMB, Dr. André Balbi.

Criado há três anos, o programa de Transplante Cardíaco do HCFMB é atualmente o primeiro centro transplantador do interior do Estado. 27 transplantes já foram realizados nesse período.