No primeiro semestre de 2022, os produtores de goiaba de Carlópolis, no norte pioneiro do Paraná, enviaram 65,2 toneladas da fruta para o mercado externo. O número é 1.142% mais alto que no mesmo período de 2020, quando o volume exportado foi de 5,2 toneladas. No mercado interno, as vendas cresceram 50% no mesmo período, segundo a Cooperativa Agroindustrial de Carlópolis (Coac). Os números refletem a visibilidade e notoriedade conquistadas pelos produtores com a Indicação Geográfica (IG) e a certificação Global G.A.P.
Inglaterra, Portugal, Canadá e Oriente Médio são os principais destinos das exportações. A produtora de goiaba certificada e gerente de vendas da Coac, Inês Yumiko Sato Sasaki, diz que as vendas seriam ainda maiores se a produção não tivesse sido afetada pelo clima. “Só não vendemos mais porque a geada do ano passado nos prejudicou bastante”, justifica.
Inês conta que a comercialização está sendo sustentada pelos produtores que não foram afetados. Em média, a cooperativa tem exportado, por meio de traders, três toneladas de goiaba por semana. Até março, a quantidade média chegava a cinco toneladas, porém, a demanda diminuiu após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
As certificações, que exigiram uma série de adequações nas propriedades, foram fundamentais para a abertura de novos mercados no Brasil e fora do país, de acordo com Inês. “Com mais visibilidade e divulgação da goiaba, o nosso trabalho agora é mais valorizado”, afirma.
Retorno animador
Inês salienta que a cooperativa tem demanda para exportação o ano todo pelo mesmo preço de venda, diferente do que ocorre no mercado interno, que sofre oscilações de valor e no volume comercializado. A expectativa é que, a partir de setembro, a cooperativa consiga exportar com valores reajustados e melhorar os rendimentos, já que os custos de adubo, mão de obra e combustíveis aumentaram.
O produtor de goiaba certificado, Rodrigo Cuenca Machado, começou a trabalhar com a fruta há cerca de três anos, como uma forma de diversificar a propriedade, onde só cultivava café. Com 5,2 mil pés plantados, ele afirma que as exportações têm ajudado a manter o preço médio de venda e o faturamento da propriedade, já que o mercado interno não está no melhor momento.
“Se não fossem as exportações, o valor recebido nos últimos meses seria muito menor”, garante. Ele explica que, ao contrário do café, que lhe gera uma renda uma vez ao ano, a goiaba oferece retorno financeiro todos os meses, porque a colheita da fruta ocorre diariamente.
Para o produtor de goiaba certificada, Juliano Bicudo, a melhor definição para a exportação é estabilidade. “Ainda estamos engatinhando e exportando em poucos volumes. Mas, eu vendo goiaba num preço fixo de janeiro a janeiro. Quando o mercado interno está mediano, vendo aqui a R$ 2,00 o quilo e, lá fora, a R$ 4,00 o quilo”, conta.
Como possui uma lavoura nova e consegue produzir frutas de excelente qualidade, cerca de 50% da produção vai para o mercado externo, o que garante estabilidade no faturamento.
Na opinião do produtor, a busca pelas certificações valeu a pena, pois o mercado tem exigido profissionalização e as conquistas renderam visibilidade nacional e internacional para a goiaba de Carlópolis. Com a grande procura e incapacidade de atender todos os pedidos, Bicudo, que começou com uma lavoura de mil pés e hoje tem 1,6 mil, pretende dobrar a capacidade de produção, a partir do ano que vem, com mais 1,5 mil pés.
O consultor do Sebrae Paraná, Odemir Capello, diz que o selo de Indicação Geográfica (IG) ajudou os produtores na organização das propriedades e gestão do processo coletivo, além de trazer visibilidade para a goiaba por meio das divulgações e participação em feiras nacionais e internacionais. “Quando iniciamos o projeto da goiaba, a ideia era vender o produto de forma diferenciada e, para isso, criar a certificação. Depois, entendemos que seria importante buscar o mercado externo, por ser mais estável e haver sobra de goiaba na região na época da safra. A goiaba era desvalorizada e jogada fora. Então, propomos certificação Global G.A.P.”, lembra.
Capello destaca que a busca por certificações por pequenos produtores, além de diferenciar o produto, ajuda na gestão das propriedades, reduz custos e garante a sustentabilidade. Mas ele enfatiza que a certificação precisa estar de acordo com o mercado que se quer atingir. “Todo esse trabalho é feito pelo Sebrae para gerar desenvolvimento para o norte pioneiro do Paraná e tornar a região uma referência em produtos diferenciados do agronegócio”, completa.