Em uma região que já conta com uma produção orgânica certificada de leite de búfala e diversas propriedades adotando o sistema em cultivos de frutas e hortaliças, extensionistas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, que atuam na Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) Regional Itapetininga e nas Casas da Agriculturas, têm intensificado as ações de apoio à transição agroecológica.
“Principalmente neste momento em que os produtores estão buscando não apenas redução de custos, com a diminuição da dependência de insumos, muito dos quais importados, com cotação em dólar, mas uma harmonização cada vez maior entre produção agrícola e meio ambiente, queremos intensificar o acompanhamento técnico de quem está fazendo ou pretende fazer a transição agroecológica”, salienta Luiz Carlos de Carvalho Leitão, diretor da CDRS Regional Itapetininga.
O profissional enfatiza a importância do mercado orgânico, que tem crescido exponencialmente em todo o país, principalmente em São Paulo, ampliando canais de comercialização e renda, especialmente para pequenos produtores.
“Nosso papel como agentes de assistência técnica e extensão rural [Ater] é apoiá-los para se manterem no seu negócio de forma profissional, com adoção de tecnologia e gestão da propriedade”, acrescenta.
Produtores
Luiz Leitão informa que na região já existem várias ações extensionistas consolidadas com um grupo de nove produtores orgânicos certificados em Tatuí, outro de 12 produtores em Angatuba, dois produtores de leite de búfala certificados em Sarapuí, e diversos já certificados ou em estágio de transição nos municípios de São Miguel Arcanjo, Ribeirão Grande, Itapetininga e Alambari.
“Para o atendimento a fruticultores e olericultores contamos com parceria, em diversas atividades, de três empresas que atuam na região e que prestam orientação técnica, sendo que uma dela orienta os produtores dentro de um protocolo e adquire os produtos com preços declarados antes da comercialização. As outras comercializam insumos orgânicos nacionais”, pontua.
Com essa diretriz, a Regional apoiou a realização da videoconferência Transição Agroecológica organizada pela Secretaria de Agronegócio, Trabalho e Desenvolvimento de Itapetininga e a Casa da Agricultura local, no dia 6 de julho, que contou com a participação de cerca de 40 pessoas, entre produtores e técnicos da rede da Secretaria de Agricultura e Abastecimento tanto da região quanto da área de abrangência da CDRS Regional Itapeva.
Capacitação
Conduzida por Lucas Nogueira, técnico conveniado da Casa da Agricultura local, e por Luiz Leitão, a capacitação virtual teve um diferencial. “Alguns produtores não têm acesso amplo a sinal de internet e nem muito conhecimento sobre tecnologia de informática. Sendo assim, a Prefeitura organizou o evento de forma segura para 21 produtores, com um telão instalado no auditório da Secretaria [capacidade para 120 pessoas], adotando todas as medidas sanitárias necessárias”, explica Luiz Leitão, reiterando que os técnicos da CDRS e os palestrantes participaram por meio de plataforma online.
Em Itapetininga, há algum tempo está sendo desenvolvido o projeto Produção Correta, com objetivo de instruir os produtores no Manejo Integrado de Pragas, na elaboração de caderno de campo e no uso de produtos alternativos e registrados para as culturas de pepino, pimentão e tomate em área de cultivo protegido.
“Essas instruções direcionam os produtores para a transição agroecológica. Além disso, incentivamos a adoção de Boas Práticas e instalamos duas Unidades Demonstrativas, para realização de capacitações em temas como rastreabilidade, tecnologia de pulverização, controle biológico de pragas e doenças, entre outros”, informa Lucas Nogueira.
“Futuramente, apoiaremos os produtores na realização de um diagnóstico das propriedades que estão em processo de transição, para dar início ao processo de certificação. Também faremos a interlocução de empresas consumidoras e produtores que produzem no sistema, visando estimular a compra direta com preços diferenciados”, finaliza.
Palestras
Os temas abordados pelos engenheiros agrônomos José Augusto Maiorano e Araci Kamiyama (ambos especialistas em Gestão de Recursos Agroambientais) que atuam, respectivamente na Divisão de Extensão Rural (Dextru) e no Departamento de Desenvolvimento Sustentável (DDS) na CDRS, abordaram os procedimentos para iniciar e prosseguir com a transição agroecológica.
Araci Kamiyama destaca que, historicamente, o setor orgânico sofre menos impacto nas crises mundiais e vem em um movimento crescente há anos, embora o mercado ainda seja pequeno quando comparado ao convencional.
“No Brasil existem cerca de 20 mil agricultores, com São Paulo ocupando o terceiro lugar, com aproximadamente 2.200 produtores, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento [Mapa]. Ouvindo relatos de instituições e agricultores, percebemos que as restrições impostas pela COVID-19 afetaram de forma diferente os que atuam no sistema orgânico e os do convencional”, afirma.
“Observamos que os pequenos produtores convencionais foram mais afetados pela pandemia que os orgânicos, o que, infere-se, aconteceu pelo fato de os canais de comercialização do segmento serem, tradicionalmente, mais diversificados”, destaca Araci Kamiyama.
Agroecologia
Diante desse cenário, a agrônoma salientou em sua palestra que tem ocorrido um aumento no interesse na transição agroecológica, tanto de produtores como de extensionistas.
“Acredito que isso está ocorrendo, por conta de que o principal diferencial da agroecologia não ser apenas a diminuição de custos pura e simples, mas o olhar sistêmico e integrado que ela proporciona. Observamos resultados relacionados com a diminuição das dependências de insumos externos, integração das atividades, incremento da agrobiodiversidade, melhoria do solo e do ambiente; o que torna o agricultor além de produtor de alimentos, um prestador de serviços ambientais importantes”, avalia.
“Uma boa transição começa com a transformação das bases produtivas, melhorias das práticas convencionais, avança para a substituição de práticas e insumos até chegar ao redesenho da propriedade, proporcionando uma melhor gestão e, consequentemente, melhor renda para o agricultor. E, claro, a questão do acesso ao mercado é fundamental”, salienta.
A agrônoma informa também que São Paulo inovou com a implementação do Protocolo de Transição Agroecológica. “É um instrumento criado para apoiar e viabilizar o processo gradual de mudanças do sistema produtivo convencional para o orgânico, reconhecendo e atestando o esforço do agricultor na mudança do padrão de produção. O seu grande diferencial é o papel central da extensão rural no apoio às implementações das práticas e ações que o produtor precisa fazer, as quais são reunidas em um Plano de Transição. O protocolo também incentiva o agricultor a atuar na melhoria da gestão da propriedade como um todo, incluindo aspectos de bem-estar, de mercado e comercialização”, diz.
Araci celebrou que uma transmissão ao vivo realizada pelo Grupo Executivo do Protocolo de Transição Agroecológica para técnicos de Ater teve mais de 290 inscritos, de 14 estados brasileiros. “Os extensionistas estão se capacitando para apoiar os produtores”, enfatiza.
Outro ponto de destaque do protocolo, segundo a agrônoma, é que ele prepara o produtor para a certificação no final do processo. “No Brasil, há opções às certificações tradicionais [por auditoria], que são os Sistemas Participativos [SPGs] e, para agricultores familiares com comercialização direta, existem os Organismos de Controle Social [OCS], processos reconhecidos e regulamentados pelo Mapa”.
Manejo do solo
De acordo com o engenheiro agrônomo José Augusto Maiorano, durante o processo de transição, é essencial que os produtores tenham especial atenção à adoção de práticas de manejo que potencializem a melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo, incluindo a realização de análises químicas, para prática de calagem e fosfatagem; plantio de adubação verde, com espécies gramíneas e/ou leguminosas; cultivo mínimo ou plantio direto; adubação orgânica; implantação de quebra ventos; terraceamento em curvas de nível; faixas de retenção; e controle de plantas espontâneas (mato) com roçadas.
Na área de nutrição vegetal, os procedimentos recomendados, segundo ele, devem ser a utilização de calcário, fosfatos naturais, farinha de ossos, termorfosfatos e outras fontes de baixa solubilidade; uso de pó de rocha moída, cinzas, estercos de animais (preferencialmente compostados), húmus de minhoca, turfas, tortas, farinhas de resíduos vegetais e animais e biofertilizantes.
“Já no que se refere à proteção das plantas quanto às pragas, são recomendados a escolha de variedades resistentes, o uso de métodos biológicos e/ou de controle físicos ou mecânicos com o uso de ensacamento dos frutos, caso muito comum em goiabas e pêssegos, além de armadilhas com isca atrativa alimentar ou lâmpadas; e uso de extratos, caldas ou soluções de plantas ou partes delas, como a calda bordalesa, entre outros”, lista.