Em 2021, os estudantes do último ano do ensino médio da rede estadual de São Paulo tiveram o pior desempenho em matemática dos últimos 11 anos. Isso é o que demonstrou o resultado do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), que são provas aplicadas em estudantes para analisar a situação da escolaridade básica paulista e ajudar os gestores a monitorar as políticas voltadas para a melhoria da qualidade da educação no estado.
No caso dos estudantes do 3º ano do ensino médio, a queda foi de 4,4%, passando de uma média de 276,6 pontos para 264,6, o pior resultado dos últimos 11 anos. Até então, o resultado mais baixo havia sido registrado em 2013, quando a média de proficiência correspondeu a 268,7 pontos.
Na avaliação de língua portuguesa, a variação negativa foi de 4,1% em relação a 2019 [ano em que foi realizada a última prova, já que em 2020 ela não ocorreu], passando de 274,5 pontos para 263,1.
De acordo com a secretaria, os dados demonstram que o aluno da última série do ensino médio estão com uma defasagem de quase seis anos no aprendizado de Matemática. Em relação à língua portuguesa, seu conhecimento corresponde ao que deveria aprender um estudante do 8o ano do ensino fundamental.
Pandemia
A explicação para a queda no desempenho, segundo a Secretaria Estadual de Educação, é o surgimento da pandemia de covid-19, que provocou o fechamento das escolas por mais de um ano. “Existem outros fatores que podem sim ter influenciado nos resultados mais negativos. Um é o fato de não termos a escola presencial. A presencialidade faz uma diferença absurda”, disse nesta quarta-feira (2) o secretário estadual da Educação de São Paulo, Rossieli Soares.
“A gente acredita que o principal fator [para a queda de desempenho] foi a falta das aulas presenciais. Lembrando que só voltamos com as aulas presenciais com todos os alunos, de forma obrigatória, em novembro [de 2021]”, ressaltou.
Por causa da pandemia, as aulas no estado de São Paulo foram suspensas em março de 2020, com adoção do ensino remoto. Em abril do ano passado, as escolas foram novamente reabertas, mas o governo paulista estabeleceu limite de até 35% de presença de alunos. Somente em outubro o governo determinou a volta obrigatória às aulas presenciais.
Segundo o secretário, o ensino remoto que foi aplicado durante o pior período da pandemia ajudou as crianças a manterem o vínculo com as escolas. Mas não substituiu o presencial. “A certeza é que ele não substituiu o presencial. Defendo muito o uso de tecnologia na educação, mas antes disso defendo a presença na sala de aula. A primeira solução para recuperar a aprendizagem é voltar para a sala de aula. O ensino remoto, como complemento, pode funcionar bem e serviu muito para manter o vínculo. Ele auxiliou também na aprendizagem, mas não temos anda como medir disso”, disse o secretário.
As provas do Saresp foram aplicadas em dezembro do ano passado para mais de 642 mil alunos do 5º e 9º anos do ensino fundamental e também para a 3ª série do ensino médio da rede estadual. Os dados se referem a escolas da rede estadual.
As provas analisaram o conhecimento em língua portuguesa, matemática, ciências da natureza, redação e questionário socioemocional e econômico. Hoje, foram divulgados apenas os resultados das provas de matemática e de língua portuguesa. Novos dados do Saresp ainda serão divulgados no dia 30 de março, trazendo dados de desempenho dos alunos nas provas de redação e de ciências.
Queda
Não foram somente os alunos de ensino médio que apresentaram queda de desempenho. O recuo ocorreu com os alunos de todos os ciclos analisados pelo Saresp.
No caso dos estudantes do 5º ano, o retrocesso de aprendizagem foi mais evidente. Para língua portuguesa, o recuo foi de 8,5%, passando de uma média de proficiência de 216,8 pontos para 198,2. Já em matemática, a queda no desempenho foi de 9,1%, passando de 231,3 pontos em 2019 para 210,2 pontos em 2021.
Segundo a secretaria, os dados do Saresp demonstraram que um aluno que está no 5º ano tem a mesma proficiência em língua portuguesa de um estudante que ainda está no 3º ano do ensino fundamental.
No caso da Matemática, a situação é ainda pior: o aluno que está no 5º ano tem a mesma proficiência de um aluno do 2º ano do ensino fundamental. Mais da metade desses alunos (61,6% do total) não conseguiu resolver uma conta simples de subtração.
Entre os estudantes do 9º ano, a perda foi de 3,3% em língua portuguesa (com média de 241,3 pontos) e de 5% para matemática (246,7 pontos).
Recuperação
Em entrevista nesta quarta-feira (2), o secretário estadual da educação, Rossieli Soares, disse que é difícil prever em quanto tempo vai ser possível recuperar toda essa perda provocada pela pandemia.
“É difícil afirmar com clareza o tempo de recuperação da aprendizagem que a gente perdeu. Acreditamos que pode haver um fator de recuperação mais rápido da base da pirâmide. Assim como foram os alunos do 5o ano os que mais perderam, que são os menos autônomos, a volta [presencial] para eles fará com que recuperem muito mais rápido. Mas não conseguimos dizer exatamente o tempo. Eu diria que, pelo menos, nos próximos três ou quatro anos, os estados e os municípios terão que fazer um esforço muito grande para a gente chegar perto do patamar de 2019.”
Para melhorar o desempenho dos alunos de São Paulo diversas estratégias estão sendo pensadas, segundo o secretário. Entre elas, o redesenho de materiais didáticos e aulas de reforço e de recuperação..
Para 2022, a secretaria prevê incluir disciplinas como inglês e ciências humanas nas provas do Saresp.