Uma das matérias divulgadas pela Folha de S. Paulo que mais chamaram a atenção nesta segunda-feira (12) de feriado foi uma a respeito de um suposto “efeito Bolsonaro” na propagação da pandemia do novo coronavírus no Brasil.
A reportagem tinha como referência um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), que identificava uma correlação entre a preferência pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a expansão da covid-19 no país.
O levantamento considerou uma série de dados de todos os municípios brasileiros, como: número de óbitos por milhão de habitantes, percentual de aumento na taxa de mortalidade, número de casos por milhão de habitantes, percentual de aumento no número de casos e o percentual de votos em Bolsonaro nas eleições de 2018.
Segundo a Folha, a pesquisa calculou que, para cada 10 pontos percentuais a mais de votos para o então candidato do PSL dois anos atrás, há um acréscimo de 11% no número de casos e de 12% no número de mortos. O estudo também foi destaque em outros sites de alcance nacional, como o Catraca Livre, o Correio Braziliense, o Yahoo!, o Estado de Minas e o Poder360.
As cidades de Salvador e Rio de Janeiro são usadas como exemplo pelos pesquisadores para afirmar que, caso Salvador fosse tão alinhada ao bolsonarismo quanto a capital carioca, ela teria 12% a mais de óbitos e 17% a mais de casos de covid-19.
“Podemos pensar que o discurso ambíguo do presidente induz seus partidários a adotarem com mais frequência comportamentos de risco [menos respeito às instruções de confinamento e uso da máscara] e a sofrer as consequências”, diz um trecho do estudo.
De acordo com os pesquisadores, esse foi o efeito que mais chamou a atenção, pois não haveria razão a princípio para explicar o motivo de cidades que votaram mais em Bolsonaro terem proporcionalmente mais mortes do que nos outros locais.
“A argumentação que usamos no nosso artigo é que provavelmente trata-se de um efeito da própria postura do presidente, que minimizou o uso de máscara e a doença, chamando-a de gripezinha”, afirma o professor João Luiz Maurity Sabóia, pesquisador envolvido no estudo.
O resultado deste estudo faz coro ao argumento de outra pesquisa, desta vez realizada pela Universidade Federal do ABC (UFABC), pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pela Universidade de São Paulo, que concluiu que a taxa de isolamento social diminuiu no Brasil em praticamente todas as vezes que Bolsonaro minimizou a pandemia.