Por Marcelo Donati

Todo ano, depois que passa o Dia Mundial do Rock, 13 de julho (data escolhida por ter sido o dia da realização do primeiro festival Live Aid, organizado por Bob Geldof, com shows de Eric Clapton e muitos outros artistas, em prol de ajuda financeira para a Etiópia), fica a questão, levantada no ar pelos saudosistas: o rock morreu?

Para começar, nada melhor que sugerir uma trilha sonora para acompanhar o texto. Podemos começar ouvindo um ‘rock de tiozão’: Boston – More than a Feeling. Na sequencia, o hino dos anos 90 Nirvana – Smells Like Teen Spirit e, depois, No One Knows, do Queens of the Stone Age.

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Sim, o rock como conhecíamos, que lotava arenas, que tocava nas novelas e supermercados (como o hit sujo criado por Kurt Cobain citado no parágrafo anterior), que preenchia as primeiras listas da Billboard, esse rock já foi pro saco. O rock como produto, como uma mina de ouro das gravadoras e empresários, como um filho bem cuidado por Peter Grant e outros figurões dos bastidores do rock, esse já não existe mais. Quer dizer, existe e está aí, a um toque de dedo nas playlists do Spotify e do Youtube. Mas não há perspectiva de nada novo no front que seja sequer parecido com o que já houve. A música pop sempre existiu e sempre vai existir, e já se vestiu outrora como o modelito rock, mas a cada momento se renova e busca novas roupas coloridas, pra nunca ficar démodé.

O rock saiu do mainstream e voltou de certa forma para os guetos, para os nichos. Pincelando exemplos recentes, neste ano de 2020 artistas e bandas como Sepultura, Green Day, Stone Temple Pilots, Ozzy Osbourne, Guided By Voices, Stephen Malkmus, Nine Inch Nails e The Strokes lançaram álbuns novos, movimentando o cenário, e conquistando novo séquito de fãs. Apesar do formato físico (CD, LP, DVD) ter perdido espaço para o streaming, os artistas e seus produtores conseguem criar e vender outras experiências (como material exclusivo para assinantes, adereços como camisetas, músicas exclusivas, material de ensaio, e contato mais próximo, como o meet and greet).

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O rock das arenas lotadas não existe mais, mas novos grupos surgem a todo momento. (Foto: Pixabay)

Mas existe coisa realmente nova, tio? Bandas novas ainda são lançadas? Com certeza! Aos borbotões! Com o advento das novas tecnologias e da facilidade de gravar hoje em dia, muitas bandas novas de rock, em seus mais variados gêneros e subgêneros, surgem todo dia, alimentando o mercado e os sonhos de todos que querem que sua música ‘barulhenta’ seja ouvida além das quatro paredes de seus quartos. É só dar uma espiada no endereço https://www.allmusic.com/newreleases e conferir. Acabei de descobrir duas bandas novas lá, Inter Arma e Dream Wife, que lançaram discos nesta semana em que escrevo estas linhas. Ao mesmo tempo, estou criando, no Spotify, uma playlist só com classic rocks raros dos anos 70 (Trapeze, Cactus, Truth & Janey, Grand Funk, Mountain, James Gang, MC5, Montrose, Budgie, etc). O novo e o velho rock conseguem sim conviver em harmonia, posto que vai além da música.

Rock é mais que um estilo musical. Envolve atitude, sentimento, modo de se expressar e de enxergar o mundo. E ampliou-se para um modo de se vestir, agir, falar. Existem muitos cabeludos por aí que só ouvem sertanejo mas adotam visual rocker! E existem executivos de terno e gravata, playboyzinhos, jovem nerds e pessoas com visual ‘comum’ (como eu, de camisa de gola, cabelo curto e óculos), que curtem e vivem o rock em sua plenitude, ouvindo o dia todo, todo dia.

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Pra encerrar a questão: enquanto algum jovem tocar sua guitarra no quarto, despejando riffs distorcidos, externando sentimento e agressividade juvenil através de um som alto, ou mesmo ainda quando uma criança dançar o esqueleto ao som de ‘Rock Around the Clock’, o rock vai permanecer vivo e ativo!