Uma aula online ministrada pela médica veterinária Talita Santos para um grupo de estudos da Unesp de Botucatu precisou ser encerrada depois um ataque racista na última quinta-feira (18) (confira no vídeo abaixo).
Especialista em animais exóticos, Talita atende em São Paulo, mas naquele momento dava uma aula virtual para um grupo que pesquisa animais selvagens da Unesp Botucatu, o GEAS. Uma hora após o início da palestra, ela foi interrompida por muitos barulhos, entre eles os sons que fazem os macacos e também declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
“Abriram os microfones, como se fosse entrar uma dúvida, mas eu não estava entendendo. Começou uma poluição sonora muito grande, barulho, música, sons de primatas, falas do presidente Bolsonaro”, explicou a pesquisadora em entrevista ao G1.
Como estava mostrando em sua tela os conteúdos que ensinava, Talita não viu o momento em que foram exibidas ainda imagens de primatas e também de Bolsonaro, mas outras pessoas que estavam na chamada acompanhavam as postagens e relataram mais esse fato a ela.
“Eu fiquei tentando falar porque eu não entendia, achei até que fosse um vírus do meu computador, aí a palestra sumiu. Depois o organizador me falou que a palestra tinha sido invadida”, completou.
O link da palestra era aberto e qualquer pessoa poderia ter acesso. Ela não conseguiu identificar quem participou da ação. “O organizador até tentou tirar pessoas da sala, mas tinha muita gente entrando e ele acabou fechando [a videochamada]”, continuou Talita.
A veterinária afirmou que recebeu apoio do grupo de estudos da Unesp e que vai registrar um boletim de ocorrência para que a polícia tente encontrar os responsáveis e puni-los.
“Sinceramente, não é diferente de outros ataques racistas. Não é a primeira vez que acontece, nunca é agradável, mas a vida já calejou bastante. É sempre uma situação ruim, mas ao mesmo tempo não foi algo que me afetou emocionalmente ou me fez duvidar da minha capacidade de trabalho”, concluiu.
Entidades como a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Unesp de Botucatu, e a organização de médicos veterinários negros Afrovet enviaram notas de repúdio ao ocorrido, nas quais também apoiavam Talita neste momento.
“Tal ação, claramente organizada, além do seu caráter criminoso, tem as marcas da intolerância, da covardia e do ódio à disseminação e a promoção do conhecimento, único caminho possível para a construção de uma sociedade mais justa e democrática”, afirmou a FMVZ em comunicado.