Por Luis Eduardo Bortotti

O rock nacional ganhou novos beats no meio da década de 90, muito graças a explosão do manguebeat e seu conceito em conectar tradições culturais do Recife com os gêneros da música pop, no caso, rock e eletrônico. A consolidação deste formato foi essencial para o reconhecimento de inúmeras bandas do cenário brasileiro nos anos seguintes. E foi em 2003, quase 10 anos depois do surgimento do movimento mangue, que uma cena semelhante (e declaradamente inspirada) à recifense ganhou destaque nas rádios do país.

Para ser mais específico, em Bauru, cidade do interior de São Paulo. A banda Mercado de Peixe foi formada em 1996, porém foi com lançamento de seu segundo disco, “Roça Elétrica”, em 2003 pela Samacô (e relançado em 2004 pela Atração), que ela alcançou as rádios e TVs do país. Estava consolidada a cena pós-caipira (rock’n’roça) que, além da Mercado de Peixe, contava com nomes como Fulanos de Tal, Sacicrioulo (de outras cidades do interior), Matuto Moderno e Caboclada (da capital paulista).

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E com esse disco, a banda inicia a fórmula em irrigar o rock com traços culturais, no caso do Mercado de Peixe com viola, sanfona e outras temáticas caipiras, e cria uma obra digníssima a ser respeitada a nível de Tonico e Tinoco.

“Roça Elétrica” é uma viagem de trem que corta planaltos de terras vermelhas paulistas, enquanto você toma um bom café e fuma um cigarro de palha.

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(Foto: Divulgação)

As letras, assim como o ritmo que mistura passado e presente, contam o cotidiano de uma cidade interiorana, exaltam a figura do homem trabalhador campestre e ainda relembram causos e personagens populares do passado. Em “Brasil Novo” (canção de abertura do disco), por exemplo, a chegada do trem a Bauru é relembrada, assim como Eni, uma prostituta que tinha um bordel na cidade nos anos 60, que é lembrada com saudades, uma sátira à famosa “Amélia” de Ataulfo Alves e Mário Lago.

Além disso, os canaviais à beira da estrada estão presentes em “Fogo No Canaviar”, assim como artistas populares em “Bernabé”, as duas ótimas canções que dão sequência ao disco.

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Mas em “Roça Elétrica”, não é apenas o rock que se mistura com a moda de viola. Beats de música eletrônica estão presentes em mixagens incríveis e curiosas, como “Moda do Peão” e “Assim Que É O Sertão”, e aclamadas na declaração de abraço do mundo caipira à globalização, “Beats e Batuques”.

A tradição caipira é a semente principal do disco, entretanto, problemas sociais atuais (e que talvez tenham sido em um passado não tão distante) também fazem parte do plantio de boas canções do álbum. Dessa colheita podemos tirar “A Massa Alucinada” e a excelente “A.A.”.

No geral, “Roça Elétrica” é uma grande obra matuta, na qual a banda Mercado de Peixe conseguiu relembrar o saudoso estilo caipira de vida/cultural e atualizá-lo muito bem para os novos ouvidos do mercado fonográfico. Assim como Chico Science fez, alguns anos antes, com o seu maracatu atômico.

(Foto: Divulgação)

MERCADO DE PEIXE – ROÇA ELÉTRICA | CURIOSIDADES

– O álbum Roça Elétrica conta com vinhetas de Cornélio Pires, um dos principais defensores da cultura caipira e patrono do movimento.

MERCADO DE PEIXE – ROÇA ELÉTRICA | #TEMQUEOUVIR

02. “Brasil Novo”
04. “Bernabé”
07. “Beats e Batuques”
08. “A Massa Alucinada”
10. “A.A.”
11. “Assim É Que É O Sertão”

MERCADO DE PEIXE – ROÇA ELÉTRICA | OUÇA AGORA!